Atletas reclamam da falta de apoio e estruturas adequadas para o desenvolvimento da iniciativa
Reportagem Kariny Martins
Edição Lina Hamdar
Luiza Vaz
O projeto sofre com a falta de recursos financeiros e estrutura adequada para a prática dos esportes
O esporte aumenta a auto-estima desses atletas, além de melhorar a saúde, já que os cadeirantes tendem a ser mais sedentários
Dentro de quadra valem as mesmas regras do que as de trânsito. Leva a culpa pela batida aquele que der a ré ou encostar no atleta da frente. O jogo é rápido, ofensivo. Esse é o basquete em cadeira de rodas, ou basquete sobre rodas, como também é chamado, a primeira modalidade paraolímpica a ser praticada no Brasil, em 1957. Hoje no país existem vinte modalidades diferentes de esportes que podem ser praticadas por pessoas com deficiência. Mas, infelizmente, falta incentivo a esses atletas.
O projeto 'Atividade Motora Adaptada' atende a pessoas com deficiência física de qualquer tipo, como lesão medular, paralisia cerebral e amputação. Entre as modalidades estão, além do basquete sobre rodas, natação, bocha, atletismo e esgrima. A iniciativa existe há 14 anos e funciona com a parceria e colaboração da Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (Adfp) e da UFPR, que cede o espaço físico e conta com três bolsistas.
Apesar da ajuda desses colaboradores, o projeto enfrenta dificuldades. A fundadora, Ruth Eugenia Cidade, afirma que os custos para manter esses esportes são muito altos. “As cadeiras de rodas precisam de manutenção constante, a esgrima e a bocha necessitam de materiais específicos que são muito caros”. Outro grande problema é o transporte para as competições, pois como as cadeiras de rodas ocupam muito espaço é difícil encontrar um veículo adequado.
Cinqüenta pessoas participam do projeto, entre elas crianças, adultos e idosos. Os mais experientes disputam campeonatos nacionais e mundiais, assim como as paraolimpíadas. As cadeiras de rodas, que são adaptadas e feitas sob medida, custam em torno de R$ 1.600. Há algum tempo, a Universidade fez a doação de nove cadeiras, mas os outros 41 atletas precisaram tirar do próprio bolso o dinheiro para comprar as outras.Além da carência de recursos financeiros, eles também sofrem com a estrutura e espaço físico inadequados. “A UFPR deveria ceder o espaço para a prática de todos os esportes, mas hoje apenas o basquete é praticado no departamento de educação física. Os demais estão sediados em instalações da Associação dos Deficientes Físicos do Paraná”, relata Ruth. O analista de sistemas e capitão do time de basquete, Sandro Colaço, conta que os praticantes não são bem recebidos dentro do departamento de educação física. “Nós treinávamos em uma quadra melhor, que tem um piso novo, mas algumas pessoas começaram a reclamar que podíamos riscar a quadra com as cadeiras, o que não acontece já que as rodas têm pneus”, desabafa Colaço.
O esporte como caminho para a inclusão social
O analista contábil Vilmar Souza é o pioneiro do basquete sobre rodas no Paraná. Ele joga desde 1979 e integrou a seleção brasileira de 1983, no time que conquistou o último título mundial brasileiro de basquete sobre rodas. “O sonho de todo atleta em qualquer modalidade, seja ele deficiente ou não, é vestir a camisa da seleção brasileira, e pra mim foi maravilhoso vestir a amarelinha e conquistar o título”.
Além de atuar pela seleção, Souza também participou, em 1980, da Adfp. De acordo com ele, a entidade tem o objetivo de promover a inclusão social das pessoas com deficiência. “A sociedade deve ver o deficiente como um cidadão qualquer, que estuda, trabalha e pode praticar esportes. Nossa meta não foi totalmente alcançada, mas houve um grande avanço”.
Segundo Colaço, os benefícios da prática de esportes para os deficientes são diversos. Há um aumento da força física e da auto-estima, além de melhorar a saúde, já que principalmente os cadeirantes tendem a ser mais sedentários. “O esporte auxilia na reabilitação e inclusão do deficiente na sociedade. As pessoas geralmente nos vêm como coitados e queremos mostrar que somos atletas profissionais e que a prática de atividades físicas nos faz superar limitações”, opina.
Ruth revela que desde a fundação do projeto o objetivo é promover a valorização pessoal e interação dos deficientes na sociedade, mas as inúmeras dificuldades acabam por retardar o processo como um todo. Segundo ela, as universidades poderiam dar maior apoio, assim como a Prefeitura da cidade. “Acredito que a Prefeitura, através da Secretária de Esporte e Lazer, tem um grande potencial e poderia nos apoiar mais”, finaliza.
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